O dia 24 de junho é especial para o CEACE, por ser a data em que festejamos o patrono de nossa amada Casa e por ser, também, a festa da mediunidade. Sem dúvida, João Batista é um dos mais belos símbolo do Cristianismo, figura ímpar no Novo Testamento : enérgico, destemido, reencarnação do profeta Elias – que pregava , igualmente , o arrependimento e a reconciliação.
Os quatro Evangelistas do Novo Testamento : Marcos , Mateus , Lucas e João Evangelista , nos apresentam João Batista como sendo o “batedor” de Jesus ; isto é , aquele que O precedeu, explorando e preparando o terreno a fim de que a Autoridade pudesse atravessá-lo com mais segurança.
Curiosamente , na Antiguidade , quando um rei viajava para lugares longínquos e pouco conhecidos de seu reino , enviava precursores com o fito de aplainarem o caminho e encherem as depressões , de modo que o rei não encontrasse obstáculos , viajando com tranquilidade.
Assim também ocorreu quando da vinda do Messias , do Cristo de Deus . Jesus enviou à Terra precursores para preparar o povo para recebê-Lo . João Batista foi um deles : “Eis que eu vou enviar o meu mensageiro a fim de que ele prepare o meu caminho…” (Malaquias, III:1 – V.T.)
E cumprindo as profecias do Velho Testamento , João Batista veio antes de Jesus e deu esperança aos humildes , abateu os orgulhosos , corrigiu os desvios e abrandou os agressivos.
No Novo Testamento , os Evangelistas , antes de falarem da missão de Jesus na Terra , narram o nascimento , o surgimento e a saga de João Batista na Palestina ; anunciando ao povo que o Messias chegaria em breve e que todos se preparassem , espiritualmente , para recebê-Lo.
Tudo na vida de João Batista transcorrera de modo incomum . O berço lhe fora oferecido em circunstâncias transcedentais . Seus pais receberam-no , quando já não o esperavam . O encontro de sua mãe , Isabel , com a prima Maria , mãe de Jesus , ainda grávidas , e a reação daqueles Espíritos que se reconheceram e se rejubilaram nos ventres maternos , antes mesmo de verem a luz do planeta Terra . (Lc., I:39 a 56.) . Conheciam os fatos narrados pelo próprio pai Zacarias . (Lc. Prólogo, 5 a 25 e 57 a 80.)
Aquele homem de aparência rude , em trajes de pêlo de camelo e um cinto de couro em volta da cintura , que alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre , intrigava saduceus e fariseus com sua desassombrada coragem ; inquietava sacerdotes e reis com sua destemida língua .
Isabel , sua mãe , se espantava com o temperamento de João , dado às mais profundas meditações , desde tenra idade .
Ao seguir para o deserto , vestiu-se como o antigo profeta Elias . Havia cinco séculos que as vozes dos profetas haviam se calado e uma preocupação geral dominava os corações . E João se sentia a voz que clama no deserto a preparar os caminhos do Senhor. Seria ele um profeta ? Ou seria ele o Messias anunciado nas Sagradas Escrituras ?
“Arrependei-vos , dizia , porque está próximo o reino dos céus . Foi deste que falou o profeta Isaías , quando disse :
– Uma voz grita no deserto : Preparai o caminho do Senhor , endireitai as Suas veredas .” (Mt., III: 2 e 3.)
João pregou e batizou , até que da Galiléia veio Jesus ter com ele , no Jordão para ser batizado . Quando João vê Jesus descer a borda do rio Jordão para ser batizado por ele , grita para que todos o ouçam:
“Este é de quem eu dizia : após mim vem um que é maior que eu , porque existia antes de mim . Não o conhecia eu ; mas , para o tornar conhecido em Israel , é que vim com o batismo da água…” (João, I:30 e 31.)
João , o Precursor do Cristo de Deus , foi chamado o Batista (= o que batiza), por ter sido ele a introduzir e popularizar a prática do batismo pela água entre o povo judeu . A imersão purificadora era utilizada por diferentes seitas dos povos da Antiguidade , com a finalidade de preparar o crente para o culto a uma divindade . E como estava escrito nas Escrituras Sagradas , que João tinha a missão de anunciar a vinda de Jesus e preparar as pessoas para O receberem ; e , como ele propunha uma renovação moral , àqueles que o atendiam , batizava-os , fazendo-os mergulhar nas águas do rio Jordão . Era uma prática simbólica que significava o arrependimento e o propósito de corrigir-se , ficando , então , a pessoa “lavada” de suas imperfeições . João só batizava adultos , pois estes já sabiam discernir o certo e o errado .
Jesus não batizava , quem o fazia , eram alguns discípulos de João . Mas , convivendo com Jesus , logo abandonaram essa prática exterior , pois a verdadeira conversão se faz no coração .
Ao batizar Jesus no rio Jordão , João teve uma visão e ouviu uma voz :
Este era o sinal que João aguardava para reconhecer o Messias . A partir de então testemunhava : “Eis o cordeiro de Deus , que tira o pecado do mundo.” (João, I:29.)
Logo , o batismo de Jesus por João teve dois significados :
- Cumprir o que diziam as Escrituras Sagradas sobre a vinda do Messias .
- Ser o sinal de que a missão de João terminava e de que o ministério de Jesus teria início .
Jesus ainda não se manifestara publicamente , nem produzira fenômenos, porém, ante a indicação de João , muitos começaram a segui-Lo , inclusive alguns dos seus discípulos.
A saga desse Espírito ímpar , por quem Jesus revela tanto carinho, admiração e respeito nos comove por sua rude beleza :
Após o batismo de Jesus , João continuou a pregar com ardor contra a degeneração moral e foi visitar o Tetrarca , sem temer , condenou-lhe a conduta , diante de todos . É preso e durante dez meses permanece em cativeiro na fortaleza sombria de Maqueronte , na Peréia . Não sofreu suplício , mas encontrava-se isolado dos discípulos amados . Sofria o amargor da punição indébita ; mas seu Espírito estava preparado para o testemunho . Em 29 de março , quando Herodes Ântipas comemora seu aniversário , Salomé , após dançar luxuriosamente para o rei e seus convivas , instigada por Herodíades , sua mãe – que se sentira desmoralizada diante da ralé e do próprio rei , pelas palavras contundentes de João Batista – , pede a Herodes Ântipas a cabeça de João .
E naquela nostálgica e solitária noite , depois de haver rememorado a trajetória de sua existência , fita o carrasco que se aproxima , sentindo a hora do testemunho , e faz soar firme sua voz :
“Ajoelhou-se sobre a imunda palha e curvou a cabeça para baixo . E num baque surdo a cabeça do Precursor rolou no piso de pedra.”
“A música voltou a soar e , rodopiando , com uma bandeja de prata na mão espalmada , Salomé entregou a Herodíades o troféu : a cabeça decepada de João Batista .”
João , Elias reencarnado , resgatava o crime cometido às margens do rio Quizom , quando mandara decepar a cabeça dos adoradores do deus Baal ; e livre , missão cumprida , ascendia , agora , aos cimos .
João Batista era a verdade , e a verdade , na sua tarefa de aperfeiçoar , dilacera e magoa , deixando-se levar aos sacrifícios extremos .
Herodes e Herodíades representam o convencionalismo político e o interesse particular .
Salomé representa a futilidade do mundo .
Mas , João Batista ressurge espiritualmente , na transfiguração de Jesus , no Monte Tabor , quando , materializados , aparecem João como Elias , ao lado de Moisés , conversando com Jesus sobre Seu próximo desencarne , em Jerusalém . Após o ocorrido , os apóstolos Pedro , Tiago Maior e João Evangelista indagam de Jesus se Elias não deveria vir primeiro , pois permanecia ainda no mundo espiritual , ao que Jesus lhes esclarece :
Eu , porém , digo-vos : Elias já veio e não o reconheceram ; trataram-no como quiseram . E os discípulos entenderam que Elias era João reencarnado .”