Hippolyte-Léon-Denizard-Rivail nasceu em Lyon, França, em 1804. Iniciou seus estudos na cidade de Bourg de L’ Ain e com a idade de dez ou onze anos ( 1814 ou 1815 ? ) é levado, por sua mãe, à Suíça, para o Instituto de Pestalozzi, na cidade de Yverdon, a fim de completar seus estudos ( 1815- 1823 ? ).
Rivail descende de uma família católica de magistrados.
Na época, o Instituto de Pestalozzi era o mais célebre da Europa, onde conviviam alunos de todos os países e diferentes credos religiosos.
Rivail tornou-se discípulo e colaborador de Pestalozzi, pois dotado de notável inteligência e atraído para o ensino, pelo seu caráter e pelas suas aptidões especiais, já aos catorze anos ensinava o que sabia àqueles que tinham dificuldade.
Homem de sólida cultura geral e filosófica, possuidor de profundos conhecimentos linguísticos, dominava, além do francês, os idiomas alemão, inglês, italiano, espanhol e holandês. Traduziu para o alemão autores clássicos franceses, especialmente os escritos de Fénelon.
Em 1824, Hippolyte já estava em Paris, propagando o método de Pestalozzi, ao publicar sua primeira obra didática: Curso Prático E Teórico De Aritmética, Segundo o Método de Pestalozzi, com modificações; para professores e mães de família.
A partir daí numerosas obras foram escritas por ele, referentes a línguas, matemática, ciências naturais, etc., adotadas oficialmente em Escolas e Universidades.
1828 : Plano Proposto Para A Melhoria Da Educação Pública, onde expõe processos pedagógicos avançados.
1831 : Qual O Sistema De Estudo Mais Em Harmonia Com As Necessidades Da Época ? , Memória sobre estudos clássicos, premiada pela Academia Real das Ciências de Arras.
> Gramática Francesa Clássica.
1846 : Manual Dos Exames Para Os Certificados De Habilitação : Soluções racionais das perguntas e dos problemas de Aritmética e de Geometria.
1848 : Catecismo Gramatical Da Língua Francesa.
1849 : Programa Dos Cursos Ordinários de Química, Física, Astronomia e Fisiologia.
> Ditados Normais ( pontos ) Para Os Exames Na Municipalidade ( Hôtel-de-Ville ) e na Sorbone, obra escrita com a colaboração de Levi-Alvarès.
> Questionário Gramatical, Literário e Filosófico, em colaboração com Levi-Alvarès.
> Dificuldades Especiais Sobre As Dificuldades Ortográficas.
1826 : O Prof. Rivail fundou o Instituto Técnico Rivail, na Rua de Sèvres , 35, em Paris, onde adotou os métodos de Pestalozzi . Em 1834, o Instituto é fechado, e, então, se dedica à tradução de livros, à organização de escritas de firmas, à composição de obras.
Em 9 de fevereiro de 1832, se casa com a Professora de Letras e Belas-Artes Amélie-Gabrielle Boudet.
De 1835 a 1840 , Rivail e sua esposa organizam , em sua casa , cursos gratuitos , para alunos pobres , de Química , Física, Astronomia e Anatomia Comparada .
Em 1849, encontramos o Prof. Rivail lecionando no Liceu Polimático as cadeiras de Fisiologia, Astronomia, Química e Física.
O Professor Hippolyte-Léon-Denizard Rivail era membro de várias sociedades, inclusive da Academia Real de Arras; e estudioso e entusiasta do Magnetismo e do Sonambulismo.
O Professor, o Pedagogo e Livre-Pensador Rivail possuía um espírito de método e organização irretorquíveis, além de imbatível argumentador de cerrada lógica. Incisivo, conciso, profundo, de linguagem simples e elevada. Homem íntegro e honrado, enfim um sábio inteligente e fecundo.
Rivail ouviu falar, por primeira vez, das mesas girantes em 1854 , pelo seu velho conhecido Sr. Fortier, que lhe disse ser possível magnetizar , tanto as pessoas como as mesas, já que o fluido magnético pode perfeitamente atuar sobre os corpos inertes e fazer que eles se movam.
Algum tempo depois, o Sr. Fortier diz a Hippolyte que: “Não só se conseguia que uma mesa se movesse, magnetizando-a, como também que falasse.” Fato extraordinário! Porém, o Prof. Rivail disse-lhe que só acreditaria em tal coisa, quando lhe provassem que uma mesa tivesse cérebro para pensar, nervos para sentir e que pudesse tornar-se sonâmbula.
Em 1855, encontra-se com o Sr. Carlotti, seu velho amigo, que lhe falou com grande entusiasmo, sobre o mesmo fenômeno, mas acrescentou-lhe nova informação: a intervenção dos Espíritos no fenômeno das mesas girantes. Em maio de 1855, o Prof. Rivail vai à casa da sonâmbula Sra. Roger e lá encontra o Sr. Pâtier e a Sra. Plainemaison, que lhe falam sobre o fenômeno das mesas girantes com muita seriedade e ponderação. Impressionado, o Prof. Rivail aceita o convite para assistir às experiências que se realizavam em casa da Sra. Plainemaison. Ao testemunhar os insólitos fenômenos, entrevê neles qualquer coisa de sério, que merecia ser estudado a fundo.
Passou a frequentar as sessões experimentais em casa da Sra. Plainemaison, onde conheceu o Sr. Baudin e suas duas filhas, Caroline e Julie, médiuns psicografas inconscientes. Assim, convidado pelo Sr. Baudin, Rivail começou a assistir às sessões semanais que ali se realizavam. E foi nessas sessões que o Prof. Rivail iniciou os seus estudos sérios de Espiritismo, não se atendo exclusivamente às revelações dos Espíritos, mas estruturando uma nova ciência, mediante a aplicação do método experimental, remontando dos efeitos às causas.
Em 1856, o Prof. Rivail passou a frequentar, também, às reuniões espíritas na casa da Srta. Japhet . Mas, por essa ocasião apercebeu-se que o resultado das reuniões em casa da família Baudin, onde, a princípio , tivera apenas o intuito de instruir-se, constituía um todo e ganhava proporções de uma doutrina; e, assim, teve a idéia de publicar os ensinamentos recebidos, para instrução de toda gente.
O Prof. Rivail levava para cada sessão em casa do Sr. Baudin, uma série de questões preparadas e metodicamente dispostas, sempre respondidas com precisão, profundeza e lógica. Seu método experimental era: observar, comparar, julgar, regra constantemente seguida por ele.
“Um dos primeiros resultados que colhi das minhas observações”, nos diz ele, foi que “os Espíritos, nada mais sendo do que as almas dos homens, não possuíam nem a plena sabedoria, nem a ciência integral; que o saber de que dispunham se circunscrevia ao grau, que haviam alcançado de adiantamento, e que a opinião deles só tinha o valor de uma opinião pessoal”.
Foram as questões sucessivamente desenvolvidas e completadas, nas reuniões em casa da família Baudin, que constituíram a base de O Livro Dos Espíritos, obra fundamental da Doutrina Espírita. Submeteu o livro ao exame de outros Espíritos, com o auxílio de mais de dez médiuns, desconhecidos uns dos outros. Da comparação e da fusão de todas as respostas, coordenadas, classificadas e muitas vezes remodeladas é que, a 18 de abril de 1857, sai a primeira edição de O Livro Dos Espíritos. Nessa oportunidade, o Prof. Rivail adota o pseudônimo de Allan Kardec, nome com que o Espírito Zéfiro – um Espírito brincalhão que participava dos passatempos das mesas girantes e que se tornou um Espírito familiar de Kardec, acompanhando o desenvolvimento da Doutrina Espírita – o havia conhecido em encarnação anterior, como sacerdote (druida), nas Gálias. E, porque desejava diferenciar a obra espírita da produção pedagógica anteriormente publicada; pois os reais autores da Doutrina são os Espíritos Superiores.
A primeira edição de O Livro Dos Espíritos tinha apenas 501 perguntas, elaboradas por Kardec, com as respectivas respostas dadas pelos Espíritos Superiores, liderados pelo Espírito de Verdade; divididas em três partes ou três livros e um epílogo , no qual adverte Kardec que o ensino dado pelos Espíritos prosseguia naquele momento sobre diversas partes e que seriam publicadas posteriormente.
A publicação de O Livro Dos Espíritos causou, na França e em alguns países da Europa, o maior “frisson”: celeumas no seio dos mais importantes segmentos sociais. Religiosos, Tecnocratas, Intelectuais contestavam a validade do livro: como de um divertimento fútil, de um passatempo dos salões parisienses poderia nascer uma doutrina? E a autoria do livro, os Espíritos, algo tão insólito e sobrenatural!? Mas, Kardec, levando a sério a investigação, a observação e a pesquisa, extrai de tais fenômenos uma Doutrina – a única que até agora conseguiu resumir em síntese magistral: Filosofia, Ciência e Religião. As celeumas culminaram com o Auto-de-Fé de Barcelona em 1865, na Espanha, quando foram queimados, em praça pública, mais de trezentos volumes de obras espíritas.
A segunda edição de O Livro Dos Espíritos vem a público, em Paris, em 18 de março de 1860 , agora com 1019 perguntas e respectivas respostas, distribuídas em quatro partes ou quatro livros, com notas aditivas e comentários de Kardec, além da Introdução, dos Prolegômenos e de uma conclusão dividida em nove partes.
O Livro Dos Espíritos, sem dúvida, é a síntese do conhecimento humano, o marco de uma nova fase da evolução humana, a obra que deu origem aos demais livros da Codificação Espírita:
18 de abril de 1857, 1ª edição de O Livro Dos Espíritos
Janeiro de 1858, Revista Espírita de Estudos Psicológicos
1858, fundação da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas
Julho de 1859, O Que É O Espiritismo
O Principiante Espírita :
Instruções Práticas Sobre As Manifestações Espíritas
18 de março de 1860, 2ª edição de O Livro Dos Espíritos
Janeiro de 1861, O Livro Dos Médiuns ( ou Guia dos Médiuns e dos Evocadores )
Abril de 1864, O Evangelho Segundo O Espiritismo, título inicial, ( A Imitação Do Evangelho Segundo O Espiritismo )
1º de agosto de 1864, O Céu E O Inferno, (ou A Justiça Divina Segundo O Espiritismo )
6 de janeiro de 1868, A Gênese, Os Milagres E As Predições
1890, Obras Póstumas, que contém textos inéditos e anotações de Kardec, publicada por seus amigos após seu desencarne.
Lemos, no parágrafo nono dos Prolegômenos de O Livro Dos Espíritos, a seguinte exortação feita a Kardec pelos Espíritos Superiores:
“Ocupa-te, cheio de zelo e perseverança, do trabalho que empreendeste com o nosso concurso, pois esse trabalho é nosso. Nele pusemos as bases de um novo edifício que se eleva e que um dia há de reunir todos os homens num mesmo sentimento de amor e caridade.”
Como podemos perceber, O Livro Dos Espíritos tem sua origem nesse trabalho conjunto entre os dois planos da vida : o espiritual e o corporal; pois a essência da obra provém dos Espíritos reveladores, mensageiros do Cristo de Deus; mas a forma, o método, a sistematização dos assuntos e das matérias, os comentários judiciosos são de autoria de Allan Kardec, apoiado pelo trabalho de recepção de vários médiuns.
Sendo O Livro Dos Espíritos um manual de educação do Espírito, tem como objetivo : ensinar, esclarecer e instrumentalizar o ser para que ele promova a sua auto-educação, projetando-nos ► a novos conhecimentos, a uma nova concepção do homem, a uma nova concepção do universo e a sintonia do homem com Deus. Sua estrutura didática esclarece e apresenta-nos : a existência de Deus, o exame do problema da criação, o homem no contexto universal, a natureza espiritual do homem, a investigação do mundo de pós-mortem, a revelação da lei de reencarnação (objetivo, justiça e finalidade), a importância e o objetivo das relações familiares, a importância da infância e do lar harmônico para o processo evolutivo do Espírito, as penas e recompensas futuras (lei de causa e efeito ► livre-arbítrio ► responsabilidade), Jesus como modelo de perfeição humana, a educação integral.
Assim sendo, o Espiritismo nos apresenta provas materiais da existência da alma e da vida futura, através das comunicações espíritas, da pluralidade das existências, princípio no qual reside um dos atributos essenciais da Humanidade; dele promana a explicação de todas as aparentes anomalias da vida humana, de todas as desigualdades intelectuais, morais e sociais, facultando ao homem saber donde vem, para onde vai, para que fim se acha na Terra e por que aí sofre. As idéias inatas se explicam pelos conhecimentos adquiridos nas vidas anteriores; as antipatias e simpatias, pela natureza das relações anteriores. Na divisa do Espiritismo : “Fora da caridade não há salvação.” , vislumbramos a igualdade entre os homens perante Deus, a tolerância , a liberdade de consciência e a benevolência mútua.
Trabalhador infatigável, que consolou e esclareceu a muitos, que nunca feriu a quem quer que seja. Em 31 de março de 1869, Kardec, quando fazia preparativos para mudar de residência, cai fulminado por um anuerisma e desencarna.
Estava cumprida, e muito bem, a sua missão de codificar a Doutrina dos Espíritos ; podia o missionário regressar à pátria espiritual.
Como todos os que trazem mensagens novas, abalando as estruturas sociais e religiosas de seu tempo, Allan Kardec passou, também, por muitas amarguras, sofreu ataques torpes e foi incompreendido até mesmo por companheiros de ideal. Aliás, disso já tinha sido avisado pelos guias espirituais, em mensagem recebida em 12/06/1856, sobre sua missão ( Obras Póstumas – 2ª Parte – Acontecimentos ). Vale , recordarmos a nota que Kardec escreve sobre esta comunicação, dez anos e meio depois de recebida :
“Andei em luta com o ódio de inimigos encarniçados, com a injúria, a calunia, a inveja e o ciúme; libelos infames se publicaram contra mim; as minhas melhores instruções foram falseadas; traíram-me aqueles em quem eu mais confiança depositava, pagaram-me com a ingratidão aqueles a quem prestei serviços. A Sociedade de Paris se constituiu foco de contínuas intrigas urdidas contra mim por aqueles mesmos que se declaravam a meu favor e que, de boa fisionomia na minha presença, pelas costas me golpeavam. Disseram que os que se conservavam fiéis estavam à minha soldada e que eu lhes pagava com o dinheiro que ganhava do Espiritismo. Nunca mais me foi dado saber o que é repouso; mais de uma vez sucumbi ao excesso de trabalho, tive abalada a saúde e comprometida a existência.
Graças, porém, à proteção e assistência dos bons Espíritos que incessantemente me deram manifestas provas de solicitude, tenho a ventura de reconhecer que nunca senti o menor desfalecimento ou desânimo e que prossegui, sempre com o mesmo ardor, no desempenho da minha tarefa, sem me preocupar com a maldade de que era objeto. Segundo a comunicação do Espírito de Verdade, eu tinha de contar com tudo isso e tudo se verificou.
Mas, também, a par dessas vicissitudes, que de satisfação experimentei, vendo a obra crescer de maneira tão prodigiosa! Com que compensações deliciosas foram pagas as minhas tribulações! Que de bênçãos e de provas de real simpatia recebi da parte de muitos aflitos a quem a Doutrina consolou! Este resultado não mo anunciou o Espírito de Verdade que, sem dúvida intencionalmente, apenas me mostrava as dificuldades do caminho. Qual não seria, pois, a minha ingratidão, se me queixasse! Se dissesse que há uma compensação entre o bem e o mal. Quando me sobrevinha uma decepção, uma contrariedade qualquer, eu me elevava pelo pensamento acima da Humanidade e me colocava antecipadamente na região dos Espíritos e desse ponto culminante, donde divisava o da minha chegada, as misérias da vida deslizavam por sobre mim sem me atingirem. Tão habitual se me tornara esse modo de proceder, que os gritos dos maus jamais me perturbaram.”
Ao analisarmos sua vida e sua obra, seu vulto se agiganta e aparece com todas as nobres qualidades de que era portador: bravura, senso de responsabilidade, humildade, capacidade de trabalho e organização, imenso cabedal de conhecimentos, bom senso e serenidade.
A missão que desempenhou na Terra, com tanto devotamento, é dessas que constituem as magnas epopéias humanas, as quais, sem dúvida, definem as grandes Eras da Humanidade: Kardec inaugurou a mais importante delas, a Era do Espírito.
Enfim, os estudos realizados por Hippolyte-Léon-Denizard Rivail em Yverdon com Pestalozzi, suas obras didáticas e seu desempenho profissional como Educador, em verdade, estavam instrumentalizando-o; fornecendo-lhe as ferramentas intelectuais e morais que lhe serviriam de base no cumprimento da missão para a qual havia encarnado, missão meticulosamente planejada pela Espiritualidade Maior : Codificar a Doutrina Espírita, O Consolador Prometido por Jesus à Humanidade terrestre.
Vejamos como Emmanuel nos apresenta esse missionário em A Caminho Da Luz, cap. XXII :
“Apelos ardentes são dirigidos ao Divino Mestre , pelos gênios tutelares dos povos terrestres. Assembléias numerosas se reúnem e confraternizam nos espaços , nas esferas mais próximas da Terra. Um dos mais lúcidos discípulos do Cristo baixa ao planeta, compenetrado da sua missão consoladora , e , dois meses antes de Napoleão sagra-se imperador , obrigando o Papa Pio VII a coroá-lo na igreja de Notre Dame , em Paris, nascia Allan Kardec , aos 3 de outubro de 1804 , com a sagrada missão de abrir caminho ao Espiritismo , a grande voz do Consolador prometido ao mundo pela misericórdia de Jesus-Cristo.”